Artrite Reumatóide
A Artrite Reumatóide é uma das doenças reumáticas mais comuns e está presente em cerca de 1% das pessoas. Acomete mais as mulheres e pode se iniciar em qualquer idade, mas principalmente entre os 35 e 50 anos.
A Artrite Reumatóide é uma doença autoimune que causa dor, inchaço e aumento de temperatura das articulações, devido a inflamação da sinóvia, que é a capa que as protege. A sinóvia produz o líquido sinovial, o qual nutre a cartilagem e lubrifica a articulação.
O Que é Doença Autoimune?
O sistema imune é a parte do nosso corpo responsável por nossa proteção contra infecções causadas por vírus, bactérias ou outros agentes indesejáveis. Quando temos uma infecção, ou seja, somos invadidos por estes microrganismos, nosso sistema imune consegue reconhecê-los, e começa a produzir anticorpos e células que irão nos proteger. Estes anticorpos e células são os nossos soldados de defesa.
Nas doenças autoimunes, por algum motivo, ocorre uma falha no nosso sistema imune. Ele passa então a identificar algo que é parte do nosso próprio corpo como uma ameaça, e começa a produzir anticorpos e células contra nós mesmos. Estes anticorpos são chamados de autoanticorpos. Inicia-se então, um ataque do sistema imunológico do indivíduo contra ele próprio. É como se fosse uma autodestruição. Esta produção de autoanticorpos e células contra nós mesmos pode estar voltada para várias partes do organismo, e na Artrite Reumatóide, as articulações são os principais alvos deste ataque.
Como saber se tenho Artrite Reumatóide?
A Artrite Reumatóide pode começar de forma lenta, com dor, inchaço e limitação dos movimentos de algumas articulações, e progressivamente pode acometer várias outras, de forma mais intensa. As articulações mais acometidas são os dedos das mãos, os punhos, os cotovelos, joelhos, tornozelos e dedos dos pés. Articulações como ombros, quadris e pescoço também podem ser envolvidas.
Outra alteração marcante é a rigidez matinal, que consiste na sensação de enrijecimento das articulações no período da manhã. É como se as articulações estivessem enferrujadas e esta sensação pode perdurar por mais de uma hora.
O paciente pode apresentar ainda fadiga, dores musculares, perda de peso e até febre.
Apesar da marca registrada desta doença ser a inflamação das articulações, outros locais como a pele, os olhos, os pulmões, o coração, os vasos sanguíneos e os nervos também podem ser afetados. Estas alterações estarão presentes principalmente em pacientes com doenças mais graves.
Não existe um exame de sangue específico que irá dizer se você tem ou não Artrite Reumatóide. O diagnóstico é feito através da união da história que o paciente irá contar sobre suas dores, as alterações encontradas pelo médico no exame físico, e de exames laboratoriais e de imagem adequados. Os exames de sangue poderão mostrar anemia e alterações dos exames que indicam inflamação, como Velocidade de Hemossedimentação (VHS) e Proteína C Reativa (PCR). O Fator Reumatóide é um autoanticorpo e pode estar presente em 80% dos pacientes. O anti-CCP também é um autoanticorpo e pode estar presente em 75% dos pacientes.
Nos casos com maior tempo de doença, as radiografias das mãos e pés podem mostrar erosões nas articulações e deformidades. Mas, nos casos com pouco tempo de doença, o ultrassom e a Ressonância Nuclear Magnética poderão trazer mais informações.
Por que tenho Artrite Reumatóide?
Vários fatores podem contribuir para o aparecimento da Artrite Reumatóide. Um deles é a herança genética, mas que sozinha, não definirá se você terá ou não a doença. Tanto é, que entre gêmeos idênticos, se um deles tiver Artrite Reumatóide, o outro terá uma chance de 15-30% de ter também. Assim, outros fatores são importantes e podem funcionar como um gatilho para o início da doença. Estes fatores são o tabagismo, infecções e alterações no microbioma intestinal (bactérias que habitam o intestino).
A obesidade, a deficiência de vitamina D, o consumo excessivo de café e sal também podem aumentar o risco de desenvolver Artrite Reumatóide. Por outro lado, ter hábitos de vida saudáveis como não fumar e consumir frutas, verduras e legumes regularmente podem ter papel protetor.
Meu exame de Fator Reumatóide é positivo. Isto significa que tenho Artrite Reumatóide?
Não. O Fator Reumatóide é um exame que pode estar presente em pessoas que não têm Artrite Reumatóide, e a chance de isto acontecer aumenta com o avançar da idade. Além disto, podemos ter pessoas com Artrite Reumatóide que apresentam o Fator Reumatóide negativo.
A Artrite Reumatóide Tem Cura?
Não usamos a palavra cura para a Artrite Reumatóide. Mas, atualmente os recursos para um controle adequado da doença são numerosos. Nos últimos anos, o desenvolvimento de novas medicações transformou a reumatologia e a vida dos pacientes. Sabe-se que quanto mais cedo iniciarmos o tratamento adequado, maiores as chances de sucesso no controle da doença e na melhora da qualidade de vida.
O tratamento da Artrite Reumatóide é feito com medicações chamadas de DMARDS (Drogas Modificadoras de Atividade de Doenças Reumáticas). Estas medicações serão responsáveis por modificarem a evolução natural da doença, e podem ser divididas em DMARDS sintéticas e DMARDS biológicas. Os DMARDS sintéticos incluem o Metotrexato, o Leflunomide e a Sulfassalazina. Já os DMARDS biológicos são drogas mais novas e incluem os Anti-TNFs, como Infliximabe, Etanercept, Adalimumabe, Certolizumabe, Golimumabe, e outras drogas como Tocilizumabe, Abatacept e Rituximabe. A escolha da droga a ser usada por cada paciente dependerá dos protocolos de tratamento e deve ser individualizada, de acordo com as necessidades e características de cada paciente. Não é rara a necessidade de troca da medicação, a depender da atividade da doença. Muitos pacientes questionam se estas drogas são “muito fortes”, mas o que temos que pensar é o quanto a doença é “forte”. Temos que usar uma medicação que seja mais forte que a doença.
Ao iniciarmos o tratamento, seja com DMARDs sintéticos ou biológicos, é importante lembrarmos que estas medicações podem demorar algumas semanas para alcançarem o efeito desejado. Por isto, drogas como anti-inflamatórios e corticosteroides como prednisona podem ser necessárias no início do tratamento, com o objetivo de controle de dor. Devem ser usadas com cuidado e por curto período de tempo, já que podem trazer vários efeitos colaterais, como aumento de pressão arterial, ganho de peso, aumento da glicose no sangue e aumento do risco de osteoporose. Assim, faz se necessário o acompanhamento dos pacientes por um médico capacitado.
Não podemos nos esquecer que o tratamento não medicamentoso também tem papel importante. Hábitos de vida saudáveis como perda de peso, boa alimentação, prática de exercícios, fortalecimento muscular e parar de fumar são fundamentais. A fisioterapia e a terapia ocupacional podem ser necessárias para adaptações da vida cotidiana.
Cirurgias realizadas pelo ortopedista também podem ser necessárias em casos específicos, seja para a colocação de uma prótese na articulação, ou para limitar articulações que são fonte de muita dor e deformidades.
Os pacientes com Artrite Reumatóide devem ser avaliados regularmente por um médico reumatologista, que deverá identificar se a doença está acordada ou adormecida (remissão), e se as medicações usadas estão causando algum efeito colateral. O objetivo é manter a Artrite Reumatóide adormecida, para que o paciente possa desfrutar de adequada qualidade de vida.
MAIS INFORMAÇÕES:
Acesse a cartilha informativa para pacientes da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).