Síndrome do Antifosfolípide

Você já viu um jovem ter um AVC isquêmico ou outras tromboses? Isto pode ser a Síndrome do Antifosfolípide.

O que é a Síndrome do Antifosfolípide?

A Síndrome do Antifosfolípide (SAF) é uma doença autoimune complexa que cursa com tromboses em veias, artérias, abortos de repetição e outras complicações durante a gravidez como pré-eclâmpsia e parto prematuro. Estas tromboses ocorrem devido a presença de autoanticorpos chamados anticorpos antifosfolípides.  

A SAF pode estar associada a outras doenças reumáticas autoimunes, principalmente o Lúpus. Nestes casos, damos o nome de SAF secundária. Quando ela acontece de forma isolada, chamamos de SAF primária.

Quem pode ter SAF?

A SAF pode ocorrer em qualquer idade, mas principalmente em adultos jovens e de meia idade. As mulheres são mais acometidas.

Quando falamos em SAF associada ao Lúpus, a predominância no sexo feminino é ainda maior. Cerca de 30 a 40% dos pacientes com Lúpus tem anticorpos antifosfolipides, e uma parte deles poderá cursar com tromboses, e receber o diagnóstico de SAF.

Estima-se que a SAF esteja presente em 13% dos indivíduos com AVC isquêmico e 9% dos pacientes com tromboses venosas profundas.

Quais são as manifestações da SAF?

Na SAF, os principais problemas são as tromboses em veias ou artérias e as complicações durante a gestação.

As tromboses mais comuns são os AVCs (Acidente Vascular Cerebral) e as tromboses venosas profundas. Também podem ocorrer tromboses pulmonares, infartos no coração, dentre outras.

Durante a gestação podemos ter abortos de repetição no início da gravidez, perdas gestacionais tardias, aumento da pressão arterial (pré-eclâmpsia), parto prematuro e diminuição do crescimento do bebê. Tais alterações ocorrem principalmente devido a tromboses na placenta.

Podem ocorrer ainda outras alterações, como manchas rendilhadas na pele que se tornam mais evidentes com a exposição ao frio (livedo reticular), espessamento das válvulas cardíacas e alterações nos rins. A redução do número de plaquetas é outra alteração que pode ocorrer.

Como saber se uma pessoa tem SAF?

Para o diagnóstico da SAF, é necessário a ocorrência de uma trombose, seja ela venosa ou arterial, ou de abortos de repetição.  Além disso, o paciente precisa ter em seu sangue, os anticorpos antifosfolípides em duas coletas diferentes. Estes anticorpos são o ACA (anticardiolipina), o IL (inibidor lúpico ou anticoagulante lúpico) ou o Anti-Beta 2 glicoproteína.

Precisamos nos lembrar que nem todas as tromboses são SAF. Na população geral, podemos ter as tromboses clássicas por outras causas e até alterações genéticas que levam à ocorrência delas.

Por que uma pessoa pode ter SAF?

As causas da SAF não estão totalmente esclarecidas. A principal hipótese é a de que em pessoas com predisposição genética, algumas infecções, traumas ou o uso de algumas drogas possam funcionar como gatilho para a instalação da doença.

Tratamento

Qual o tratamento da SAF?

A SAF, assim como outras doenças autoimunes, não tem cura. O objetivo do tratamento é evitar que o paciente tenha novas tromboses, e no caso da SAF obstétrica, evitar que a paciente tenha complicações durante a gestação, sendo a principal, a perda do bebê.

No tratamento, exceto para a SAF obstétrica, realizamos a anticoagulação contínua com a medicação chamada varfarina. Esta anticoagulação precisa ser sempre acompanhada por um exame chamado Tempo de Protrombina (INR), que mostrará o quanto o sangue do paciente está “mais fino” que o sangue das pessoas que não tomam a medicação. Para pacientes com SAF que tiveram tromboses venosas, o INR precisa estar entre 2 e 3, e para aqueles que sofreram uma trombose arterial, entre 2,5 e 3,5.

Devemos dar atenção especial à alimentação do paciente que usa varfarina, pois alguns alimentos podem interferir na ação desta medicação. Alguns medicamentos também podem interferir na coagulação. Assim, o reumatologista deve estar sempre atento.

Orienta-se também, que todos os pacientes tomem AAS diariamente.

O uso da hidroxicloroquina pode ser benéfico em pacientes com várias tromboses.

É necessário ainda, que haja controle da obesidade, da pressão arterial e dos níveis de colesterol e triglicérides. O tabagismo deve ser excluído. Em viagens, o uso de meias elásticas deve ser sempre orientado.

Para as pacientes com SAF obstétrica, o tratamento é feito durante a toda a gravidez com AAS contínuo e heparina de baixo peso (injeção subcutânea). O acompanhamento gestacional requer reavaliações frequentes com ultrassom e cardiotocografia para acompanhamento do desenvolvimento de bebê, assim como da placenta e do cordão umbilical. A anticoagulação deve ser suspensa 24 horas antes do parto, e reiniciada 6 a 8 horas após o parto, sendo mantida por mais 6 a 8 semanas.

Tenho anticorpos antifosfolípides positivos, mas nunca tive trombose. O que devo fazer?

Pacientes só com anticorpos antifosfolípides podem ser orientados a usar AAS todos os dias, para reduzir a chance de tromboses.

MAIS INFORMAÇÕES:

Acesse a cartilha informativa para pacientes da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR).